SUSTENTABILIDADE
Samuel Gonsales é um dos entrevistas pelo Jornal DCI a respeito da proposta de neutralização de sites da GreenClick, uma empresa que converte em árvores plantadas, o número de visualizações em websites.
Confira a matéria na íntegra:
Empresa transforma cliques em árvores
Cada árvore neutralizada representa 15,6 kg de monóxido de carbono e a meta da empresa é neutralizar 780 toneladas de CO2 em um ano, o que representa 50 mil árvores plantadas
Foto: Paulo Bareta
A olho nu, a internet parece inofensiva para o meio ambiente, mas na verdade as suas visualizações e cliques contribuem muito para a poluição do planeta. O espaço que as pessoas economizam em suas casas e arquivos, quando digitalizam documentos, fotos e vídeos e compartilham tudo na web, pode sim destruir o meio ambiente. Os nossos computadores e demais aparelhos digitais ligados, todos eles funcionando com energia elétrica, estão conectados virtualmente a gigantescos servidores e data centers, que abastecem nuvens de dados cada vez maiores. Aliás, um estudo realizado pelo Greenpeace mostra que o mundo tem mais de 30 milhões de data centers. O consumo de energia elétrica gerada para manter sites em funcionamento na nuvem já soma quase 700 bilhões de kWh, e em 2020 pode superar os índices da França, Alemanha, Canadá e Brasil juntos.
Foi exatamente essa sensação que teve Samuel Gonsales, gerente de produto de e-commerce da empresa de tecnologia e-Millennium BackOffice, quando conheceu a proposta de neutralização de sites da GreenClick, uma empresa que converte em árvores plantadas, o número de visualizações em websites. Com essa ação ambiental, a empresa neutraliza o gás carbônico (CO2) emitido pelos servidores e certifica os seus clientes com um selo de certificação sustentável. A GreenClick calcula o consumo de energia gerada por quem adere ao programa, por meio do número de visualizações de página (pageviews). Cada dez mil pageviews representam uma árvore a ser semeada. Após a contratação do selo, o cliente recebe seu certificado digital para ser publicado na página da empresa. Com um clique, é possível verificar por quantas árvores a empresa tornou-se responsável e quantos quilos de CO2 são neutralizados com a iniciativa. Para comprovar a veracidade da informação, a GreenClick possui uma ferramenta que audita o número de views do site.
Segundo Gonsales, o selo ambiental da GreenClick funcionou como uma forma de comunicar esse engajamento aos seus clientes e fornecedores e serviu para conscientizar parceiros e colaboradores. “Fizemos uma campanha interna, pois grande parte das pessoas desconhece o fato de que nossos equipamentos contribuem para a poluição do planeta”, explica. Qualquer site pode aderir à iniciativa. A e-Millenium, por exemplo, optou pelo serviço por ser simples de implementar, como também uma alternativa interessante de investimento em um modelo sustentável de gestão, a baixo custo. Para neutralizar os efeitos poluentes do seus sites, os clientes pagam R$ 238,79 por cada árvore por ano. O selo segue uma tabela progressiva, pela qual quanto maior o número de árvores plantadas, menor é o custo unitário da árvore. Uma empresa que tem três árvores, por exemplo, paga R$ 430 por ano. As árvores são plantadas na região do Paraná, em parceria com instituições de reflorestamento credenciadas.
A gênese da GreenClick
A simplicidade e o baixo custo para pequenas empresas que querem ser sustentáveis foram as grandes sacadas da GreenClick. Fundada há menos de seis meses, com investimento de R$ 1 milhão, já tem 230 árvores plantadas, de 50 clientes ativos, que devem chegar a 70 no próximo mês. São clientes de todas as áreas, além da de tecnologia, e de todos os tamanhos. “Tivemos uma aceitação muito boa para algo que é inovador, provavelmente porque é uma proposta clara e acessível. Criamos uma forma simples de que a empresa cumpra o seu papel socioambiental”, conta Cecília Vick, diretora-executiva da GreenClick, bastante animada com os primeiros resultados da empresa que ajudou a desenvolver. O objetivo da empresa é plantar dez mil árvores no seu primeiro ano, ou 70 toneladas de CO2, quantidade capaz de neutralizar a contaminação de um veículo com motor 1.0 dando quatro voltas ao redor da Terra. Atualizado diariamente, o selo permite que os internautas vejam no site das empresas quantas árvores elas plantaram para neutralizar suas emissões, inclusive com fotos que registram o crescimento de cada uma dessas mudas. Ao mesmo tempo, o selo possui um mecanismo que audita diariamente a quantidade de visualizações do site e alerta sobre a necessidade de novas árvores.
A marca da sustentabilidade
Planejada desde agosto do ano passado, a GreenClick nasceu da união entre Cecília Vick e dois investidores: o grupo Hi Partners Capital & Work, especializado em empresas de tecnologia e internet, e o executivo Ricardo Ramos, CEO de Precifica, uma plataforma brasileira de precificação inteligente. “Juntamos a expertise de dois executivos da área digital, com o meu conhecimento da área social, o que trouxe a nossa força e estrutura”, conta Vick, que está à frente da operação. No total, os sócios investiram R$ 1 milhão na empresa, para suportar dois anos de negócio.
Para poder mensurar o nível de poluição gerado pelos websites, a GreenClick analisou as especificações técnicas dos maiores servidores do mundo, verificando a quantidade de energia consumida e a quantidade de acessos. Para se ter uma ideia, um laptop ligado por quatro horas equivale a 12 gramas de CO2 e 300 mil pageviews equivalem a 30 árvores, a 210 quilos de CO2 ou 2,4 mil laptops ligados por hora, calcula um estudo da empresa. Segundo a GreenClick, o consumo mundial de energia dos data centers chega a 700 bilhões de kWh por ano, um número que só cresce.
Somente na América Latina, o consumo de energia pelos data centers aumentou 15% no ano passado, de acordo com o Censo Mundial da DatacenterDynamics 2013. Com o cruzamento dessas informações, a empresa concluiu que, a cada 120 mil visualizações por ano, é necessário plantar uma árvore, neutralizando a emissão de sete quilos de CO2, equivalentes à impressão de sete mil livros.
O arquiteto Ricardo Gea, sócio-diretor do escritório Imaginarte Arquitetura & Design, se interessou pelo selo como uma forma de reforçar o conceito de sustentabilidade da sua empresa e dos seus projetos, que já realizam práticas como a economia de luz e água, e a redução de resíduos nas construções. “Se cada um fizer sua parte, divulgando e conscientizando os demais, ajudaremos no alcance de metas mundiais no controle da emissão de carbono”, diz Gea. A imagem de marca sustentável é um dos motivos que atraem as empresas a se interessar pela solução da GreenClick. Segundo dados do Sebrae, 79% de empresas com práticas sustentáveis atraem mais clientes, e o Índice de Sustentabilidade Empresarial ISE) da BM&FBovespa tem mostrado que as ações com essa preocupação têm se valorizado cada vez mais em relação ao Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores.
Estes foram alguns dos dados analisados pela GreenClick no projeto, que também descobriu que muitas empresas não adotavam práticas sustentáveis por conta da burocracia e porque os processos internos para desenvolver a área significam custos que muitas empresas, especialmente as pequenas, não podem absorver. “A ideia era criar algo em que elas conseguissem cumprir seu papel em relação ao meio-ambiente de forma muito simples e, além disso, valorizar a própria marca através dessa iniciativa”, diz Cecília, sobre outra das sacadas da empresa. “Ser sustentável pode ser um diferencial para os seus clientes”, afirma. Uma das empresas que têm valorizado essas informações é a Plural Indústria Gráfica, uma das maiores do País no seu segmento, com capacidade nominal para imprimir 1,5 milhão de cadernos de 16 páginas por hora. Segundo o selo, publicado no site, a empresa já neutralizou 21 quilos de CO2, com três árvores plantadas no Paraná, e já incluiu esses resultados no seu relatório anual de sustentabilidade.
A Plural é uma das muitas clientes do selo que não são da área de tecnologia, assim como a Imaginarte, o Colégio São Marino e a KD Pneus, hoje o principal cliente da GreenClick, com 50 árvores plantadas e 350 quilos de CO2 neutralizados. “Estamos bem diversificados”, diz Cecília.
Parcerias socioambientais
A GreenClick nasceu com uma parceria com o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF), que até o momento tem sido o principal responsável pelo plantio de espécies nativas, realizado em uma área no norte do Paraná, no município de Apucarana.
Fundado em 2006 pela família Aquino, o IBF já produziu mais de 18 milhões de árvores dos biomas Mata Atlântica e Cerrado para todo o País, nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, e é uma das maiores redes de produção de mudas florestais nativas do Brasil.
Mas a empresa já está fechando novas parcerias, para ampliar o plantio de árvores pelo País e atender clientes de todo o Brasil. A GreenClick acaba de fechar uma parceria em São Carlos, que não é apenas ambiental, mas também social. “Fui conhecer a região e como é feito o plantio. Eles têm uma área de educação ambiental, atendem escolas e o governo e ensinam a importância das árvores. Faz tempo que estava buscando uma parceria social”, conta Vick, que diz que tem mais duas parcerias similares em análise.
Assistente social por formação, com experiência em empresas de e-commerce, Vick diz que encontrou no projeto o caminho para alcançar o sonho de liderar um processo social ambiental. Isso porque, junto com o selo socioambiental concedido às empresas, se promove também o plantio de árvores, feito por famílias de agricultores que vivem dessa iniciativa.
“O nosso objetivo é ter parceiros em todo o território nacional para atender a uma empresa que, por exemplo, queira incentivar um plantio que esteja ocorrendo no Nordeste”, explica.
A ampliação do projeto pelo País, através dessas parcerias socioambientais, e as negociações em andamento com empresas de grande porte podem ajudar a GreenClick a atingir a meta deste ano, de 70 toneladas de carbono, algo que à primeira vista parece distante, mas que, aos olhos de Cecília Vick e de seus sócios, é um desafio difícil, mas possível.
Verónica Goyzueta
Publicada originalmente no Jornal DCI em 30/05/2014